Com o término do Euro 2024, chega agora a hora de analisar, através dos dados fornecidos pela SICS, em parceria com a Sports Data Campus, os destaques individuais em diferentes aspectos. Assim, este artigo tem como objetivo analisar os jogadores que se destacaram, trazendo abaixo, diferentes métricas que tentam explicar o jogo, ao longo do torneio, abordando não apenas os habituais golos e assistências, mas também outras estatísticas importantes como passes chave, passes chave recebidos, cruzamentos, duelos ganhos, evidenciando o desempenho individual dos atletas traduzido em contribuições significativas para as suas equipas e, consequentemente, para o sucesso no torneio.

Euro 2024 concluído: DUELOS GANHOS
Os atletas com maior percentagem de duelos ganhos no Euro 2024 foram Pepe (80%), Matviyenko (79%) e Christensen (78%).
O experiente Pepe, de 41 anos, escreveu mais uma história no seu legado de performances lendárias em competições de seleções sendo novamente o pilar da defesa portuguesa, não só com a sua usual liderança, mas também eficácia na marcação, sendo o atleta com maior percentagem de duelos vencidos durante o torneio com 80%.
Já o ucraniano Matviyenko, apesar da sua seleção não ter se classificado para a fase a eliminar, tendo 1 vitória, 1 empate e 1 derrota, obteve números expressivos nos duelos, atuando como central esquerdo da sua seleção e sendo talvez o melhor elemento de uma linha defensiva que mostrou algumas fragilidades.
Para encerrar, o dinamarquês Christensen que, mesmo atuando na última linha defensiva, pelo lado esquerdo, numa linha de 3 defesas-centrais, ao observar seu mapa de calor e seus dados, percebe-se sua importância para a seleção, de maneira mais ampla. Contudo, isso não impediu que também fosse imperial nos duelos, ganhando 78% dos que disputou.

PASSES-CHAVE
Neste aspeto, o recém-reformado, mas mesmo assim ainda perfeitamente apto para estes palcos como demonstrou ao nível desta época, Toni Kroos foi o principal destaque, com índices muito acima dos demais, completando 64 passes-chave ao longo do torneio, enquanto Xhaka e Fabian Ruiz tiveram, 37 e 34, respectivamente. É inegável a importância dos três para suas seleções e equipes, dada a qualidade técnica e sendo pilares no setor que controla o jogo – o meio-campo. Kroos teve uma importância significativa para uma seleção que vinha com problemas e alguma desconfiança, durante todo o período pré-Euro, trazendo o habitual equilíbrio no controlo e gestão de ritmos de jogo e contribuindo com a sua
reconhecida qualidade técnica.
Já Xhaka, foi o autêntico patrão da seleção suíça (nota também para Akanji que teve irrepreensível no seu setor), fez uma excelente competição e era também ele o principal responsável pela gestão de ritmos da Suíça, que teve um desempenho fantástico, ficando a sensação que poderia ter chegado mais longe no torneio dado o futebol praticado, sendo
apenas eliminados nos penáltis contra a Inglaterra.
O campeão Fabian Ruiz, juntamente com Rodri e Dani Olmo (Pedri lesionou-se, mas também pode ser citado), foi importante num setor em que a Espanha foi claramente mais forte em todos os jogos do torneio, em relação ao seu adversário. O médio do PSG encerrou a competição com 2 golos e 2 assistências e era muitas vezes o elo de ligação a fase média e o último terço, aparecendo ora mais perto de Rodri ou de Dani Olmo/Pedri, mostrando uma enorme versatilidade no seu jogo.

PASSES-CHAVE RECEBIDOS
Nesta métrica, os jogadores que se destacaram foram Depay (43), Dani Olmo (39) e Mbappé (39). O semi-finalista Memphis Depay fez um desempenho bastante sólido mas não espetacular ao longo do Euro 2024. Foi sempre titular nas 6 partidas realizadas pelos Países Baixos, atuando sempre como a principal referência ofensiva neerlandesa. Assim, não deixa de ser surpresa que tenha sido o jogador que mais passes-chave recebeu ao longo do torneio, visto que também faz parte das suas características sair da posição ‘9’ e procurar outros espaços de modo a desestabilizar a defesa adversária. Com isto, foi capaz de fazer um golo e ainda de produzir uma assistência, tendo sido a par com Xavi Simons e Gakpo, as principais figuras da sua seleção na vertente ofensiva. Uma prova da influência de Depay no processo ofensivo dos Países Baixos terá sido no jogo da meia-final contra a Inglaterra, onde após a sua saída por lesão, a equipa neerlandesa não conseguiu ter o controlo do jogo e a mesma clarividência ofensiva, talvez por faltar o tal jogador para conseguir ligar o meio campo com
o ataque.
Em relação ao segundo, todos os elogios que se possam fazer são curtos para aquilo que o agora campeão europeu mostrou algo do torneio. Apesar de só ter conquistado a titularidade nas fases mais adiantadas da competição (e a lesão de Pedri também contribuiu para isto), o médio do Leipzig mostrou uma facilidade enorme na criação e na produção no último terço, sendo capaz de totalizar 3 golos e 2 assistências.
Numa era do futebol, onde já há muito tempo se lamenta a ‘morte’ da posição ‘10’, Olmo faz ainda parte dos últimos lotes dos ‘10’ clássicos que nos fazem apaixonar por este desporto. Atuando sempre mais adiantado que os outros dois médios espanhóis (Rodri e Fabián Ruiz) era, a par de Nico Williams e Lamine Yamal, o responsável pela criação de oportunidades e talvez estes 3 jogadores tenham sido os mais esclarecidos e os mais perigosos no último terço. Atuando no meio, ou aparecendo mais descaído para a esquerda ou para a direita, mas sempre nas entrelinhas, Olmo foi o segundo jogador que mais passeschave recebeu ao longo do torneio e foi, provavelmente, o que mais sucesso conseguiu tirar dessas situações. Já Kylian Mbappé foi, sem surpresa, a grande referência ofensiva da seleção francesa que nunca foi capaz de mostrar o futebol que nos tem vindo a habituar ao longo dos últimos torneios de seleções, tendo marcado apenas um golo de bola corrida em 6 jogos disputados, no qual Mbappé foi essencial ao assistir Kolo Muani para o golo inaugural da meia-final contra a Espanha. Atuando maioritariamente sobre a esquerda e com uma seleção francesa atuando muito mais expectante que o habitual, Mbappé servia muitas vezes como o ‘plano de fuga’ da França para sair para o ataque, não sendo sempre capaz de produzir oportunidades de golo para a sua equipa.

CRUZAMENTOS
No que diz respeito aos cruzamentos, tivemos Mittelstadt (20), Kimmich (19) e Nico Williams (19) como os principais cruzadores no Euro 2024.
Em relação aos alemães, faz sentido que os laterais com mais minutos da seleção germânica apareçam neste top se analisarmos a equipa da Alemanha. No lado esquerdo da Alemanha o parceiro de Mittelstadt foi sempre Musiala que procura espaços interiores, o que liberta a linha para o lateral do Estugarda e explica o número alto de cruzamentos. O mesmo acontece no lado direito, quer quando jogou Wirtz, que tal como Musiala opera muito mais no centro do terreno, ou quando o escolhido para atuar como extremo direito fora Sané, que sendo canhoto, e apesar de jogar muitas vezes à largura, procura sempre partir dessa posição junto à linha para atacar o meio e poder usar o seu pé preferido, raramente procurando ir à linha para cruzar. Assim, Kimmich viu-se obrigado a ser ele mesmo o principal responsável por realizar cruzamentos do lado direito do ataque alemão.
A fechar o top, temos Nico Williams. O craque espanhol que explodiu ao longo deste torneio, tem recursos infindáveis pelos quais consegue ferir o adversário. Com uma velocidade e dribles explosivos, é capaz de, a partir sobretudo do flanco esquerdo, aparecer nas costas da defesa adversária e de puxar para dentro para assistir um colega ou visar a baliza, ou de ir à linha e cruzar. O extremo do Athletic Bilbao fez 2 golos e 1 assistência, mas estes números não contam a história toda e não refletem a capacidade soberba de criação de oportunidades que o jogador mostrou nos 7 jogos que disputou, como podemos confirmar na
métrica seguinte.

xA
No top das ‘Expected Assists’ temos os virtuosos Nico Williams (10,5), Ousmane Dembélé (8,8) e Memphis Depay (8,4).
Começando por onde acabámos na métrica anterior, Nico Williams foi o jogador que mais situações de golo criou para os seus colegas, apesar de só ter feito uma assistência. Como já referido anteriormente, Nico é um tormento para as defesas adversárias, sobretudo em campo aberto e quando se encontra em situações de 1 para 1, sendo capaz de encarar o defesa e de usar a sua velocidade e o seu drible curto para ultrapassar facilmente o adversário, tendo ainda a capacidade para rematar à baliza ou servir os seus colegas em situações vantajosas para fazerem golo.
Por outro lado, Depay, já tinha aparecido no top de passes-chave recebidos e, jogando a ponta de lança, foi o principal criador de situações para os seus colegas, o que mostra a sua influência ofensiva no ataque neerlandês. Memphis tem a capacidade de sair da posição’9’, quer baixando para zonas mais recuadas ou caindo em ambos os lados, atraindo e desposicionando os defesas adversários, e de servir os seus colegas de equipa.
O último jogador neste top 3 é Ousmane Dembélé. Este jogador é sinónimo de produção no último terço, não significando isto que o jogador francês tome sempre a decisão correta, mas a verdade é que o extremo, que é muito forte a jogar com ambos os pés, na maior parte das vezes que recebe a bola em posições vantajosas, encara sempre o adversário e usa da sua velocidade e mudanças de direção repentinas para cruzar ou assistir os seus colegas. Desta forma, é normal que o extremo do PSG apareça neste top-3, apesar de não ter contabilizado nenhuma assistência ao longo da competição.
ASSISTÊNCIAS
Quem fez mais assistências no Euro 2024 foi o jovem Yamal com 4, seguido por seus compatriotas e também destaques Dani Olmo e Fabian Ruiz com 2. Junto a estes tivemos também Kimmich, Prass, Budimir, Kucka, Mbappe, Aké, Simons, Man, Aebischer, Freuler e Guler.


xG
Em termos de ‘Expected Goals’, os atletas que apresentaram os maiores índices foram Cristiano Ronaldo (4,97), Havertz (4,13) e Kane (3,87).
Curiosamente, Ronaldo acabou a competição sem nenhum golo marcado e, como o próprio índice mostra, desperdiçou oportunidades bastante claras de golo, inclusive um penálti. O eterno craque está, naturalmente, numa fase decadente na sua carreira e já não é capaz de fazer o que nos habituou ao longo de quase duas décadas, desde o seu drible e velocidade explosiva, à capacidade de salto e de força física que o tornavam numa força completamente imparável. Apesar disto, Cristiano não perdeu o seu jogo de área, sendo capaz de ainda ter o faro pelo golo e aparecer nas posições certas, o que se ainda conseguiu ver, embora a espaços neste torneio. Contudo, apesar de um valor de xG de 4,97, CR7 não foi capaz de fazer qualquer golo neste torneio e fica a dúvida de como teria sido a prestação da seleção portuguesa se outro avançado, como Diogo Jota ou Gonçalo Ramos tivesse tido mais minutos.
Já Havertz acabou por converter 2 golos, ambos de penálti, e também desperdiçou bastante oportunidades de golo. O médio/avançado alemão tem imensa qualidade técnica, sendo um jogador muito versátil e que pode desempenhar diferentes funções. Contudo, fica sempre a sensação que falta golo a Havertz e que, se algum dia desenvolver a sua capacidade
goleadora, vai entrar definitivamente para o topo do futebol mundial.
Por outro lado, Harry Kane esteve mais próximo da métrica, marcando 3 golos no torneio, sendo um de penálti. Apesar disto, também ele não teve exibições coincidentes com aquilo que nos tem habituado, refletindo o que passou com praticamente todos os seus compatriotas ao longo deste torneio, onde o futebol que praticaram foi muito pobre para a qualidade individual que têm, apesar de terem conseguido chegar à final.
Golos
Os artilheiros da competição com 3 golos foram: Dani Olmo, Musiala, Schranz, Mikautadze, Gakpo e Kane.

RELATÓRIO PREPARADO PELOS ALUNOS DO SPORTS DATA CAMPUS:
André Borges: https://www.linkedin.com/in/andré-borges-6ba0011b7/
Felipe Ferreira: https://www.linkedin.com/in/felipe-ferreira-2215bb109/
Miguel Lopes: https://www.linkedin.com/in/maglopes/
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